12 dezembro, 2010
0 Santa Vocação - João Calvino
E
nos chamou com santa vocação. (2Tm 1.9) Ele faz de nossa
vocação o selo infalível de nossa salvação. Pois como a salvação foi consumada
na morte de Cristo, assim Deus nos faz partícipes dela através de Cristo. Para
magnificar essa vocação ainda mais, ele a qualifica de santa. Tal fato deve ser
cuidadosamente observado, pois assim como temos de buscar a salvação
exclusivamente em Cristo, ele também teria morrido em vão e a troco de nada
caso não nos chamasse para participarmos desta graça. Portanto, mesmo depois de
haver, com sua morte, nos granjeado a salvação, uma segunda bênção resta ser
outorgada, a saber: que ele nos uniria em seu Corpo e nos comunicaria seus
benefícios a fim de desfrutarmo-los.
Não
segundo nossas obras. Ele agora chama a atenção para a fonte, quer de
nossa vocação, quer de nossa salvação total. Não possuímos obras que sejam
capazes de tomar a iniciativa em lugar de Deus, de modo que a nossa salvação
depende absolutamente de seu gracioso propósito e eleição. Em ambos os termos -
'propósito' e 'graça' - há uma hipálage*, de modo que o segundo termo é
considerado um adjetivo - "segundo o seu gracioso propósito". Ainda
que Paulo geralmente use o termo 'propósito' no sentido de "o decreto
secreto de Deus", o qual depende exclusivamente dele, o apóstolo, aqui,
decide adicionar 'graça' com o fim de tornar sua tese ainda mais explícita e
poder excluir completamente toda e qualquer referência às obras. A antítese,
neste versículo, por si só é suficiente para deixar completamente claro que não
há espaço algum para as obras onde reina a graça de Deus, especialmente quando
somos lembrados da eleição divina, através da qual ele antecipou eleger-nos
antes que viéssemos à existência. O mesmo tema é discutido mais amplamente em
conexão com Efésios 1, e no momento toco nele mui de leve, já que o discuto
mais amplamente ali.
A
qual nos foi dada. Partindo da ordem do tempo, ele conclui que a
salvação nos foi outorgada pela graça soberana, já que nada fizemos de antemão
para merecê-la. Pois se Deus nos elegeu antes da fundação do mundo, então ele
não poderia ter levado em conta obra alguma de nossa parte, porquanto nenhuma
ainda existia e nós mesmos ainda não existíamos. A evasão sofistica, de que Deus
fora influenciado pelas obras que previra, não demanda uma longa resposta. Que
espécie de obras teriam sido essas, se Deus nos havia rejeitado, visto que a
eleição propriamente dita é a fonte e origem de todas as coisas boas? Esse 'dar
graças' de que ele faz menção, outra coisa não é senão a predestinação, pela
qual fomos adotados como filhos de Deus. Gostaria que meus leitores se
lembrassem disso, pois amiúde se diz que Deus nos 'dá' sua graça somente quando
ela começa a operar eficazmente em nós. Aqui, porém, Paulo está tratando
daquilo que Deus determinou consigo mesmo desde o princípio; portanto, o que
ele deu às pessoas que nem ainda existiam é algo que fica completamente fora de
qualquer consideração meritória, e o conservou em seus tesouros até chegar o
tempo em que pudesse trazê-lo a lume pelo resultado de que Deus nada determina
em vão.
Tanto aqui quanto em Tito 1, o
apóstolo chama a inter-minável série de anos, desde a fundação do mundo [Tt
1.2], de tempos eternos. A engenhosa discussão sobre este assunto, que
Agostinho suscita em muitas passagens, é estranha ao pensamento de Paulo; o que
este quer dizer é simplesmente isto: "antes que os tempos iniciassem sua
trajetória, desde todas as eras passadas." Além do mais, é digno de nota o
fato de ele colocar Cristo como o único fundamento da salvação, porque fora
dele não há nem adoção nem salvação para ninguém, como diz ele em Efésios 1.
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