30 setembro, 2010
0 O que foi impossível à lei. - João Calvino
- ( Rm
8.3 ) -
O Senhor nos justificou em Cristo,
movido por sua soberana misericórdia. Tal coisa é impossível à lei fazer.
Todavia, visto que esta cláusula é por demais notável, examinemos cada uma de
suas partes.
O apóstolo afirma em termos
claros que os nossos pecados foram expiados pela morte de Cristo, visto que era
impossível que a lei nos conferisse a justiça. Daqui se infere que muito mais
nos é ordenado na lei do que somos capazes de fazer. Se fôssemos capazes de
cumprir a lei, não teria sido necessário buscar remédio em outra fonte.
Portanto, é simplesmente absurdo medir a força humana pelos preceitos da lei,
como se Deus, ao ordenar o que é justo, houvera considerado o caráter e a
extensão de nossas faculdades.
No
que estava enferma pela carne. Para que ninguém imaginasse
que o apóstolo estava sendo irreverente, acusando a lei de enferma, ou
restringindo-a às simples observâncias cerimoniais, ele expressamente afirma
que esta defecção não era devido a alguma falha na lei, e, sim, às corrupções
de nossa carne. E preciso admitir que, se alguém pudesse satisfazer a lei
divina em termos absolutos, então o mesmo seria justo diante de Deus. Portanto,
o apóstolo não nega que a lei seja suficiente para justificar-nos no que
respeita à doutrina, visto que a mesma contém a norma perfeita de justiça.
Contudo, visto que nossa carne não atinge essa justiça, todo o poder da lei
falha e se desvanece. Por isso não é difícil refutar o erro ou, antes, a ilusão
daqueles que imaginam que Paulo está privando somente as cerimônias da virtude
de justificar. Porquanto Paulo expressamente põe a culpa em nós mesmos, e
declara que ele não encontra falha na própria doutrina da lei.
Além do mais, é preciso que
entendamos a enfermidade da lei no sentido em que o apóstolo usualmente toma
a palavra, a qual significa não simplesmente uma leve fraqueza, e, sim,
impotência. Ele adota este sentido com o fim de enfatizar que não é
absolutamente a função da lei conceder justiça. Vemos, pois, que estamos
inteiramente excluídos da justiça de Cristo, visto que não pode haver justiça
em nós mesmos. Tal conhecimento é especialmente necessário, porque jamais
seremos vestidos com a justiça de Cristo, a menos que antes saibamos com
certeza que não possuímos em nós qualquer justiça que mereça chamar-se nossa. A
palavra carne é sempre usada no mesmo sentido, significando nós próprios. A
corrupção, pois, de nossa natureza torna a lei de Deus de nenhuma utilidade
para nós. Embora nos mostre o caminho da vida, ela não nos impede de nos
precipitarmos de ponta cabeça na morte.
Isso
fez Deus enviando seu próprio Filho. Ele agora mostra a maneira
como nosso Pai celestial nos restaurou à justiça por intermédio de seu Filho. O
Pai condenou o pecado na carne de Cristo, ou seja: ao cancelar o escrito de
dívida [Cl 2.14], ele aboliu a culpa que nos mantinha condenados na presença de
Deus. A condenação proveniente do pecado nos trouxe para a justiça, porque,
visto que nossa culpa foi desfeita, estamos absolvidos, de sorte que Deus nos
considera justos. Em primeiro lugar, contudo, Paulo afirma que Cristo foi
enviado, a fim de lembrar-nos que a justiça de forma alguma reside em nós, já
que devemos buscá-la nele. E em vão que os homens confiam em seus próprios
méritos, porquanto são justos somente através do beneplácito de outro, ouse
apropriam da justiça procedente da expiação que Cristo efetuou em sua carne.
Cristo, diz ele, veio na semelhança de carne pecaminosa. Embora a carne de
Cristo fosse incontaminada por qualquer mancha, ela tinha a aparência de
pecaminosidade, visto que levava em si o castigo devido aos nossos pecados.
Certamente, a morte manifestava, na carne de Cristo, cada partícula de seu
poder, como se sua carne se sujeitasse [espontaneamente] à morte. Visto que
nosso Sumo Sacerdote tinha que aprender, de experiência própria, o que
significa participar da fraqueza [Hb 4.15], aprouve a Cristo carregar nossas
enfermidades, a fim de poder inclinar-se para nós com mais compaixão. Neste
aspecto, também, transpareceu nele uma certa semelhança [—imago] com a nossa natureza pecaminosa.
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