27 agosto, 2010
0 Calvino - Pastor e Pregador
Portanto, o primeiro arranjo a
ser feito foi.o de que ele deveria começar a trabalhar em Genebra simplesmente
como um professor. "Naquela igreja...", ele explicou mais tarde,
"assumi primeiramente o ofício de doutor." Eles rapidamente
descobriram, entretanto, que ninguém poderia se equiparar a ele como pregador
e, num determinado momento, foi chamado para se tornar o pastor ou o bispo da congregação
local. Esse, segundo ele pensava, era o mais elevado e mais abrangente ofício
que Deus poderia dar a alguém dentro da Igreja. Ele envolvia responsabilidade
pelo cuidado e disciplina do rebanho, a manutenção dos membros em unidade, e
também a pregação e o ensino. Calvino sempre acreditou que ninguém poderia
jamais obter ou reter o título pastoral sem ter uma comunidade própria para
pregar regularmente. Isso porque, em sua visão, um papa que cuidava meramente
da administração geral da Igreja não tinha o direito de se autodenominar bispo.
Possivelmente ele também tenha
descoberto, graças à sua eficácia como mestre ou teólogo, que precisava da
comunhão da paróquia. Apenas na liderança ativa do povo de Deus, e em
relacionamento íntimo com ele, Calvino poderia averiguar a fidelidade de seu
ensino à palavra de Deus, e sua eficácia, enquanto tentava trabalhar as
implicações da Reforma para a vida cristã e para o bem cristão da comunidade.
Seu ensino teria perdido sua alma se ele tivesse partido para a erudição
isolada da vida inteiramente acadêmica. Ter um trabalho especial perto da linha
de frente salvou-o de se transformar meramente num burocrata eclesiástico de
palavrório teórico, com inevitáveis iluminações parciais, capaz de alimentar
mais a imprensa que o próprio rebanho.
A tarefa de pregar regularmente
a Palavra levou-o enfim ao coração do movimento da Reforma em sua batalha pela
alma da Europa, pois, foi mais por meio de sua pregação, que por meio de
qualquer outro aspecto de sua obra, que ele exerceu a extraordinária influência
que todos reconhecem que ele teve.
De maneira alguma tem sido
incomum na história da Igreja que a pregação tenha se tornado um fator poderoso
na conversão de pessoas e comunidades, na mudança de costumes sociais e na
condução de homens para a ação política. Podemos pensar, por exemplo, no
marcante relato de Agostinho sobre como sua pregação em Cesaréia, na
Mauritânia, subjugou os homens de uma comu¬nidade selvagem e moveu-os a
abandonar para sempre seus costumeiros períodos anuais de assassinatos intrafamiliar.
Além disso, a Idade Média não se ressentia da falta de pregadores de poder e
influência excepcionais. Porém, na época da Reforma, o que havia sido
anteriormente ocasional, e até mesmo raro, pareceu transformar-se por um tempo
numa experiência comum dentro da vida normal da Igreja.
Muitas vezes, a influência do
pregador sobre sua comunidade é uma força profundamente difusa, difícil de ser
investigada em seus resultados precisos. Porém, também muitas vezes, a pregação
é uma causa imediata óbvia de importantes mudanças de atitudes e atmosferas em
períodos críticos na luta como um todo — como, por exemplo, nos sermões de
Lutero em Wittemberg, em 1532, ou os sermões de John Knox, em Perth, no momento
crítico da Reforma na Escócia. Os próprios reformadores eram conscientes da
poderosa e ampla influência que eles exerciam por meio da pregação. Lutero
estava muito confi¬ante de que poderia resistir aos "ásperos lordes e aos
raivosos nobres e superá-los", como ele tinha resistido "ao ídolo
deles, o papa e superado-o", apenas com palavras.6 John Knox escreve numa
carta datada de 23 de junho de 1559 de como "por mais de quarenta dias meu
Deus tem usado minha língua no meu país de origem para a manifestação de sua
glória",7 estando confiante o suficiente para contar a Cecil no mesmo ano
que "Cristo Jesus crucificado, agora começou a ser pregado", poderia
juntar os corações daqueles há tempo prejudicados por Satanás e trazer
"perpétua concórdia" entre os dois reinos da Escócia e da Inglaterra.
Além disso, os relatos dessa
época indicam que havia um anseio incomum da parte do povo em geral para ouvir
a pregação da Palavra de Deus. Já observamos que a experiência inicial de Calvino
de encontrar-se constantemente cercado por aqueles que tinham "sede por ensino
relevante", e a despeito de todas as suas diferenças e tensões, o povo e
as autoridades de Genebra precisavam de Calvino tanto
quanto Calvino precisava deles também. A demanda por pastores que poderiam
pregar a Palavra era intensa em todo o mundo reformado. Quando lemos que em
Genebra em 1549 o concílio ordenou aos pregadores que pregassem um sermão a
cada manhã da semana em vez de em manhãs alternadas,9 e que o primeiro livro de
disciplina na Escócia, em 1560, ordenava que "em cada cidade notável, um
dia, além dos domingos, deveria ser escolhido para sermão e oração", não
devemos imaginar que por trás dessas ordenanças existisse um clérigo agressivo
e presunçoso assegurando por ele mesmo e por seus pontos de vista uma posição
dominante de influência na comunidade. A iniciativa tinha partido de leigos que
queriam até mesmo mais do que muitos de seus pastores poderiam dar. A
"multidão de pessoas" que foi registrada pelo Concílio em Genebra
para assistir aos sermões de Viret e Calvino não estava lá como vítima de uma
disciplina de ferro. As pessoas queriam ouvir a Palavra. A carta de John Knox
de St. Andrews, datada de 23 de junho de 1559, pode ser citada: "A sede do
povo pobre tanto quanto da herança nobre, é maravilhosamente grande, o que me
deu o conforto de que Cristo Jesus triunfará no Norte e nas partes extremas da
terra".
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