07 junho, 2010
0 O Único que possui a Imortalidade – João Calvino
- O
bendito e único Soberano (1Tm 6.15,16). Esses títulos de honra são
usados com o fim de exaltar o poder de Deus como Soberano, para que os nossos
olhos não sejam ofuscados pelo esplendor dos príncipes deste mundo. Esta
instrução era especialmente necessária naquele tempo em que a grandeza e o
poder de todos os reinos tendiam a obscurecer a majestade e a glória de Deus.
Porquanto, todos os homens poderosos eram não só mortais inimigos do reino de
Deus, senão que também viviam arrogantemente atacando a Deus e pisoteando o seu
santo Nome debaixo da planta de seus pés. E quanto mais orgulhosamente
derramavam seu escárnio sobre a genuína religião, mais bem sucedidos imaginavam
ser. Em tal circunstância, quem não ousaria chegar à conclusão de que Deus era
miseravelmente vilipendiado e oprimido? Vemos em Pro Flacco de Cícero a que píncaros de insolência ele atinge contra
os judeus em virtude de seu miserável estado. Quando as pessoas de coração
benevolente contemplam os ímpios tão entumecidos pela prosperidade, sentem-se
às vezes sucumbidas; portanto, para que volvessem seus olhos desse fugaz
esplendor, Paulo atribui unicamente a Deus a bem-aventurança, a soberania e o
poder real. Ao chamá-lo, o único Soberano, o apóstolo não está destruindo o
governo civil, como se não houvesse magistrados ou reis no mundo; sua intenção
era que somente Deus é quem governa em seu direito e poder inerentes. Tal coisa
se deduz da próxima frase que é adicionada à guisa de explicação.
Rei
dos reis e Senhor e senhores. O apóstolo quer dizer que os
poderes deste mundo estão sujeitos ao seu supremo domínio, dependem dele e
ficam de pé ou caem ao sabor de seu arbítrio. A autoridade de Deus está além de
toda e qualquer comparação, visto que tudo o mais é nulidade diante de sua
glória; e enquanto murcham e subitamente perecem, a autoridade divina durará de
eternidade a eternidade.
O
único que possui a imortalidade. Paulo, aqui, está preocupado
em demonstrar que à parte de Deus não há felicidade alguma, nem dignidade, nem
excelência, nem vida. Ele agora afirma que Deus é o único imortal, que devemos
saber que nós, bem como todas as criaturas, não possuímos vida inerente em nós
mesmos, senão que a recebemos dele. Daqui se deduz que quando buscamos a Deus
como a fonte da imortalidade, devemos mirar esta presente vida como algo de
nenhum valor. No entanto, pode suscitar-se a seguinte objeção: a imortalidade
pertence às almas humanas e aos anjos, e assim não se pode dizer que ela
pertença exclusivamente a Deus. Minha resposta é que Paulo não está negando que
Deus confira imortalidade a algumas de suas criaturas como lhe apraz; mas é
ainda verdade que unicamente ele a possui. É como se o apóstolo dissesse que
Deus não só é o único ser inerentemente e por sua própria natureza imortal, mas
também que ele tem a imortalidade em seu poder, de modo que ela não pertence às
criaturas, senão até ao ponto em ele lhes comunica energia e poder. Pois se o
leitor afastar a energia divina que é instilada na alma humana, ela
imediatamente se desvanecerá; e o mesmo se dá no tocante aos anjos. Portanto,
estritamente falando, a imortalidade não tem sua sede nas almas, quer dos
homens, quer dos anjos, senão que é procedente de outra fonte - a secreta
inspiração de Deus, como se acha expressa em Atos 17.28: "Nele vivemos, nos movemos e
existimos." Se alguém desejar unia abordagem mais completa e mais
detalhada desse tema, recomendo que leia o décimo segundo capítulo de a Cidade de Deus, de Agostinho.
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