16 junho, 2010
0 O Amor de Deus no Coração – João Calvino
Ora,
a esperança não confunde... (Rm 5.5). Ou seja, ela tem a nossa
salvação como um fato garantido. Isto mostra claramente que a aflição é usada
pelo Senhor para provar-nos, de modo que a nossa salvação possa, por isso,
progredir gradualmente. Portanto, aquelas misérias, que a seu próprio modo são
os suportes de nossa felicidade, não podem transformar-nos em miseráveis. E
assim a tese de Paulo fica provada, ou seja: que os piedosos contam com bases
sólidas para gloriar-se no meio de suas aflições.
Porque
o amor de Deus é derramado em nossos corações. Não
refiro isto só à última frase, mas ao todo dos dois versículos precedentes.
Somos estimulados à paciência pela instrumentalidade da tribulação, e a
paciência é para nós a prova do auxílio divino. Este fato robustece um tanto
mais a nossa esperança; pois, por mais que sejamos acossados, e nos pareçamos
desgastados, não cessamos de sentir a munificência divina para conosco. Esta é
a mais rica consolação, e muito mais abundante do que quando tudo parecia ir-nos
bem. Uma vez que o que se nos afigura como felicidade não passa de miséria,
quando Deus nos hostiliza e se revela descontente conosco, assim também, quando
ele se mostra favoravelmente disposto para conosco, nossas próprias calamidades
indubitavelmente nos resultarão em prosperidade e alegria.
Todas as coisas devem servir a
vontade do Criador, porque, segundo o seu paternal favor para conosco (conforme Paulo o reiterará no capítulo 8),
ele direciona todas as provações oriundas da cruz para nossa salvação. Este
conhecimento do amor divino para conosco é insulado em nossos corações pelo
Espírito de Deus, pois as boas coisas que Deus preparou para aqueles que o
adoram estão ocultas dos ouvidos, dos olhos e das mentes dos homens, e
tão-somente o Espírito é quem pode revelá-las. O particípio derramado é
bastante enfático, e significa que a revelação do amor divino para conosco é
tão copiosa que enche os nossos corações. Sendo assim derramado, e permeando
cada parte de nós, não só mitiga nosso sofrimento na adversidade, mas também
age como um agradável condimento a transmitir graça às nossas tribulações.
Ele diz mais que o Espírito é outorgado
ou seja, ele nos é concedido pela munificência divina, cuja motivação não se
acha em nós, e nem nos foi conferida com base em nossos méritos, conforme a
feliz observação de Agostinho. Contudo, o mesmo Agostinho equivocou-se em sua
interpretação do amor de Deus. Eis sua explicação: visto que suportamos as
adversidades com persistência, então somos confirmados em nossa esperança; e
visto que fomos regenerados pelo Espírito Santo, então amamos a Deus. Este pode
ser um sentimento piedoso, mas não justifica a intenção de Paulo. O amor não
pode ser considerado aqui em sentido ativo, mas passivo. E certo também que o
que Paulo nos ensina aqui consiste em que a genuína fonte de todo o amor está
na convicção que os crentes têm do amor divino por eles. Esta não é uma leve
persuasão a imprimir-lhes certos matizes [à vida], senão que suas mentes são
completamente permeadas por ele.
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