21 junho, 2010
0 Cristo, o pleno cumprimento do Sábado - João Calvino
O
SENTIDO TIPOLÓGICO DO SÉTIMO DIA
A observância de um dia dentre
cada sete representava aos judeus esta cessação perpétua de atividades, a qual,
para que fosse cultivada com religiosidade maior, o Senhor a recomendou com seu
próprio exemplo. Pois é de não somenos valia para aquecer o zelo do homem que
saiba estar trilhando à imitação do Criador.
Se alguém procura algum sentido
secreto no número sete, uma vez que na Escritura este é o número da perfeição,
não sem causa foi ele escolhido para expressar perpetuidade. Ao que também
confirma isto: que Moisés põe termo à descrição da sucessão de dias e noites
com o dia em que narra haver o Senhor descansado de suas obras. Pode-se também
apresentar outro significado provável do número, isto é, que o Senhor assim indicou
que o sábado nunca haverá de ser absoluto até que tenha chegado o último dia.
Pois aqui começamos nosso bem-aventurado descanso nele, descanso em que fazemos
diariamente novos progressos. Mas, porque ainda incessante é a luta com a
carne, não se haverá de consumar antes que se cumpra aquele vaticínio de Isaías
[66.23], enquanto a lua nova for continuada por lua nova, sábado por sábado,
até quando, na verdade, Deus vier a ser tudo em todas as coisas [1Co 15.28].
Portanto, pode parecer que,
mediante o sétimo dia, o Senhor tenha delineado a seu povo a perfeição futura
de seu sábado no Último Dia, a fim de que, pela incessante meditação do sábado,
a esta perfeição aspirasse por toda a vida.
CRISTO,
O PLENO CUMPRIMENTO DO SÁBADO
Se a alguém desagrada esta
interpretação do número como sendo por demais sutil, nada impeço a que a tome
em termos mais simples, a saber: que o Senhor estabeleceu um dia determinado em
que o povo se exercitasse, sob a direção da lei, a meditar na incessabilidade
do descanso espiritual; que Deus designou o sétimo dia, ou porque previa ser o
mesmo suficiente para isso, ou para que, proposta uma imitação de seu exemplo,
melhor estimulasse o povo, ou, na realidade, o exortasse a não atentar para o sábado com outro propósito
senão que o conformasse a seu Criador.
Ora, pouco interessa que
interpretação se adote, desde que subsista o mistério que principalmente se
delineia: o referente ao perpétuo descanso de nossos labores. A contemplar
isto, os Profetas reiteradamente revocavam os judeus, para que não pensassem
haver-se desincumbido da obrigação do sábado com a simples cessação física do
trabalho. Além das passagens já referidas, assim tens em Isaías [58.13, 14]:
“Se apartares do sábado teu pé, para que não faças tua vontade em meu santo
dia, e ao sábado chamares deleitoso e o dia santo do Senhor glorioso, e o glorificares,
não seguindo teus caminhos e não fazendo tua vontade, de sorte que fales tua
palavra, então te deleitarás no Senhor” etc.
Mas, não há dúvida de que pela
vinda do Senhor Jesus Cristo o que era aqui cerimonial foi abolido. Pois ele é
a verdade, por cuja presença se desvanecem todas as figuras; o corpo, a cuja
visão são deixadas para trás as sombras. Ele é, digo-o, o verdadeiro cumprimento
do sábado. Com ele, sepultados através do batismo, fomos enxertados na
participação de sua morte, para que, participantes de sua ressurreição, andemos
em novidade de vida [Rm 6.4]. Por isso, escreve o Apóstolo em outro lugar que o
sábado tem sido uma sombra da realidade futura, e que o corpo, isto é, a sólida
substância da verdade, que bem explicou naquela passagem, está em Cristo [Cl
2.17]. Esta não consiste em apenas um dia, mas em todo o curso de nossa vida, até
que, inteiramente mortos para nós mesmos, nos enchamos da vida de Deus. Portanto,
que esteja longe dos cristãos a observância supersticiosa de dias.
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