19 abril, 2010
0 Um Conhecimento que não atinge os Sentidos - Calvino
Ora, a fé é.
Qualquer um que imagine que esse é apenas o início do capítulo onze, terá
equivocadamente quebrado a seqüência. O propósito do apóstolo é buscar reforço
para sua discussão anterior sobre a necessidade de cultivar-se a paciência: Ora, a fé é a substância das coisas que se
esperam, a evidência das coisas que não se vêem – (Hb 11.1).
Já citou o testemunho de Habacuque, dizendo que o justo viverá
por sua fé. Agora mostra o que faltava, ou seja: que a fé não pode separar-se
da paciência mais do que poderia separar-se de si própria. Eis a seqüência de
suas ponderações: jamais alcançaremos a meta da salvação, a menos que nos
munamos de paciência. O profeta declara que o justo viverá por sua fé, porém a
fé nos conduz para as coisas distantes que ainda não alcançamos; portanto,
necessário se faz que a fé inclua a paciência. A proposição menor no silogismo
é: a fé é a substância, etc. É evidente disso que estão muitíssimo equivocados
aqueles que crêem que aqui se oferece uma definição exata de fé. O apóstolo não
está discutindo a natureza da fé como um todo, senão que seleciona aquela parte
que se adequa ao seu propósito, a saber: que a paciência está sempre
relacionada com a fé.
Consideremos agora as palavras.
Ele chama a fé de a substância das coisas que se esperam. É de nossa
experiência que o que se espera não se encontra ainda em nossas mãos, e, sim, o
que está ainda escondido de nós, ou, pelo menos, que o usufruto do mesmo é
adiado para outro tempo. O apóstolo está dizendo a mesma coisa que Paulo em Romanos 8.24, onde, após dizer que o
que se espera não se vê, chega à conclusão que se deve esperá-lo com paciência.
Daí nosso apóstolo nos ensinar que não devemos exercer fé em Deus com base nas
coisas presentes, e, sim, com base na expectativa de coisas ainda vindouras. Há
nessa aparente contradição um toque de atrativa beleza. Diz que a fé é a
substância, ou seja: o arrimo ou fundamento sobre o qual firmamos nossos pés.
Mas apoio do quê? Das coisas ausentes, as quais se encontram tão longe de estar
sob nossos pés, que excedem infinitamente ao poder de nossa compreensão.
A mesma idéia percorre a
segunda cláusula, onde ele denomina a fé de a evidência, que é a demonstração
das coisas não visualizadas. Uma
demonstração provoca o aparecimento das coisas, e comumente se refere somente
ao que se acha sujeito aos nossos sentidos. Essas duas coisas aparentemente contradizem
uma à outra, no entanto estão em perfeita harmonia, quando a nossa preocupação
é a fé. O Espírito de Deus nos mostra as coisas ocultas, o conhecimento das
quais não pode atingir nossos sentidos.
A
vida eterna nos é prometida; todavia, ela é prometida aos mortos. Somos informados sobre a ressurreição dos
bem-aventurados; mas, entrementes, vivemos envolvidos em corrupção. Somos
informados de que somos justos; todavia, o pecado habita em nós. Ouvimos que
somos bem-aventurados; mas, entrementes, somos subjugados por inaudita miséria.
É-nos prometida abundância de tudo quanto é bom; mas vivemos freqüentemente
famintos e sedentos. Deus proclama que nos virá buscar imediatamente; mas
parece que é surdo ao nosso clamor. O que seria de nós, se não fôssemos
sustentados por nossa esperança? E quantos de nossos pensamentos não emergem
acima da escuridão e pairam acima do mundo, sustentados pela luz da Palavra de
Deus e de seu Espírito? Portanto, a fé é com justa razão chamada a substância
das coisas que são ainda objetos de esperança e a evidência das coisas ainda
ocultas. Agostinho às vezes intercambia evidência e convicção, do que não
discordo, porque fielmente expressa a intenção do apóstolo.
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