13 abril, 2010
0 Se esperamos o que não vemos... - João Calvino
Porque
na esperança fomos salvos (Rm 8.24,25). Paulo confirma sua exortação
por meio de outro argumento, visto que nossa salvação não pode ser separada da
aparência de morte. Ele prova isto a partir da natureza da esperança. Visto que
esta se estende às coisas que ainda não fazem parte de nossa experiência, e
representam às nossas mentes a imagem de coisas que se acham ocultas e por
demais remotas, tudo quanto salta aos olhos ou é sentido pelo contato da mão
não pode ser esperado. Paulo toma por garantida a inegável verdade: enquanto
vivermos neste mundo, nossa salvação reside na esperança. A nossa dedução,
pois, é que ela se acha conservada na presença de Deus, muito longe de nossos
sentidos. Ao dizer que a esperança que se vê não é esperança, ele usa uma
expressão incisiva, porém sem obscurecer a idéia. Simplesmente deseja
ensinar-nos que, embora a esperança se refira a um bom futuro e não a um bom
presente, jamais está conectada a uma plena e evidente possessão. Portanto, se
tais gemidos se constituem num fardo para alguns, estão necessariamente
lançando por terra a ordem estabelecida por Deus, ou seja: que não chama seu
povo a triunfar antes de exercitá-lo na batalha do sofrimento. Porém, visto que
a Deus aprouve guardar nossa salvação encerrada em seu seio, é-nos proveitoso
neste mundo lutar, sofrer opressão, aflição, gemer, chorar até à languidez como
pobres moribundos. Os que buscam uma salvação visível, na verdade rejeitam-na
quando renunciam a esperança; porquanto esta foi designada por Deus como
guardiã da salvação.
Mas,
se esperamos o que não vemos, então com paciência o aguardamos. O
argumento é derivado do precedente para o conseqüente, porque da esperança se
segue necessariamente a paciência. Se é penosa a ausência de um bem que tanto
desejamos, desmaiaríamos de desespero caso não fôssemos sustentados e
confortados pela paciência. A esperança, pois, sempre teve a paciência em sua
companhia. A conclusão do apóstolo é, portanto, mui apropriada, a saber: tudo
quanto o evangelho promete concernente à glória da ressurreição se desvaneceria
caso não gastássemos nossa presente vida em carregar pacientemente a cruz e as
tribulações. Se nossa vida é invisível, então é mister ter sempre a morte
diante de nossos olhos; mas se nossa glória é invisível, então o nosso presente
estado é a ignomínia. Se porventura quisermos sumariar toda esta passagem em
poucas palavras, podemos organizar os argumentos de Paulo desta forma: "A
salvação está guardada na esperança para todos os santos, porém aquela
qualidade de esperança que se acha concentrada nos benefícios futuros estão
ausentes. Portanto}, a salvação dos crentes está escondida. No momento, a
esperança é sustentada somente pela paciência. É só por meio da paciência que a
salvação dos crentes é consolidada."
Temos aqui, pode-se acrescentar,
uma notável passagem que revela que a paciência é companheira inseparável da
fé. A razão para isso é evidente, ou seja: quando somos consolados com a
esperança de uma condição muito melhor, a consciência de nossas presentes
misérias é suavizada e mitigada, para que as mesmas sejam enfrentadas com menos
dificuldades.
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