14 abril, 2010
0 Fé e Consciência Íntegra - João Calvino
Mantendo a fé e uma consciência
íntegra (1Tm 1.19),
Tomo a palavra 'fé' num sentido
geral, ou seja, de ensino sadio. E nesse sentido que ele usa o termo mais
adiante, quando fala de "o mistério da fé" [3.9].
Essas são deveras as principais coisas requeridas de um mestre, ou seja: que se
mantenha firme na verdade pura do evangelho e que seja um ministro de
consciência íntegra e zelo equilibrado. Onde esses dois elementos se fazem
presentes, o resto se seguirá dos mesmos.
Porquanto alguns, tendo-se
desviado delas. O apóstolo mostra quão necessário se faz que uma consciência
íntegra acompanhe a fé, pois o castigo de uma má consciência consiste no desvio
da senda do dever. Aqueles que não servem a Deus com uma mente pura e honesta,
mas se entregam às más disposições, ainda que tenham começado com uma mente
equilibrada, no fim perdem-na completamente. Esta passagem deve receber
cuidadosa ponderação. Sabemos que o tesouro da sã doutrina é inestimável, e
nada há para se temer mais do que o risco de perdê-lo. Aqui, porém, Paulo nos
diz que a única forma de conservá-lo é conservando-o com uma boa consciência.
Por que é que tantos rejeitam o evangelho e se precipitam no seio de seitas
ímpias ou se envolvem em erros monstruosos? É porque Deus pune os hipócritas
com esse gênero de cegueira, justamente como, em contrapartida, um sincero
temor de Deus nos injeta vigor para perseverarmos. Desse fato podemos aprender
duas lições. Primeiramente, os mestres e ministros do evangelho, e através
deles toda a Igreja, são advertidos sobre como muitos deles devem sentir
repulsa por uma falsa e hipócrita profissão da verdadeira doutrina, visto ser a
mesma castigada com extrema severidade. Em segundo lugar, esta passagem remove
aquela dificuldade que perturba a tantos, quando eles se deparam com alguns que
uma vez professaram a Cristo e seu evangelho, não só retornando às suas
superstições anteriores, mas, pior ainda, se deixam fascinar por erros
monstruosos. Com tais exemplos, Deus está publicamente vindicando a honra do
evangelho e publicamente declarando que não pode suportar que o mesmo seja
profanado. Isso é algo que se pode aprender da experiência da própria época;
todos os erros que têm surgido na Igreja Cristã, desde seus primórdios, emanam
dessa fonte: a cobiça e o egoísmo às vezes têm extinguido o genuíno temor de
Deus. Daí a má consciência ser a mãe de todas as heresias, e hoje nos deparamos
com um vasto número de pessoas que jamais abraçaram a fé com honestidade e
sinceridade, se precipitam como bestas brutas na sandice dos epicureos, e assim
a sua hipocrisia se torna exposta. E não só isso, mas também que o menosprezo
por Deus se espalha por toda parte e as vidas licenciosas e depravadas de quase
todas as classes humanas revelam que não resta no mundo senão uma minguada
porção de integridade, de modo que há boas razões para temer-se que a luz que
ficou acesa tão pronto se apague, e que Deus conserve num limitadíssimo número
de pessoas o sadio entendimento do evangelho.
A metáfora extraída do
naufrágio é muito oportuna, pois sugere que, se desejarmos alcançar o porto com
nossa fé intacta, então devemos fazer da boa consciência o piloto de nossa
trajetória, de outra sorte corremos o risco de naufragarmos; a fé pode
afundar-se no abismo de uma má consciência, como um remoinho num mar
tormentoso.
Labels:
1 Timóteo,
Comentários Bíblicos,
Consciência,
Íntegridade,
Pastorais
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários: