02 março, 2010
1 Porque amei a Jacó, porém, Odiei a Esaú - João Calvino
E as crianças não eram ainda nascidas (Rm
9.11-13). Ele agora começa a
pôr-se mais a descoberto, a fim de mostrar a razão desta diferença, a qual, nos informa ele, deve ser
encontrada unicamente na eleição
divina. Inicialmente notara, de forma sucinta, que havia certa diferença entre
os filhos naturais e os de Abraão, ou seja: ainda que, pela circuncisão, todos
haviam
sido adotados na participação do pacto,
todavia a graça divina não fora eficaz em todos eles. Portanto, aqueles que
desfrutam dos benefícios divinos são os filhos da promessa. Paulo, não
obstante, ou guardara silêncio, ou no mínimo fizera uma alusão um tanto velada
sobre a causa desta ocorrência. Mas agora ele faz uma clara referência a
toda a causa da eleição imerecida de Deus, a qual em hipótese alguma
depende do homem. Na salvação dos santos não temos que buscar uma causa maior
fora da munificência divina, e nenhuma causa maior na destruição dos réprobos
além de sua justa severidade.
A primeira proposição de Paulo, pois, é a seguinte:
"Como a bênção do pacto separa o povo de Israel de todas as demais nações,
assim também a eleição divina faz distinção entre as pessoas desta nação, ao
tempo em que predestina alguns para a salvação e outros para a condenação
eterna.55 Eis a segunda proposição: "Não há outro fundamento
para esta eleição senão unicamente a munificência divina, bem como sua mercê [revelada] desde a queda de Adão, a qual amplexa
todos aqueles de quem ele se agrada, sem nenhuma consideração por suas
obras, quaisquer que sejam elas.55 Eis a terceira: "O Senhor,
em sua eleição totalmente imerecida, é livre e isento da necessidade de
conceder igualmente a todos a mesma graça. Ao contrário, ele ignora a quem
quer, e escolhe a quem lhe apraz.55 Paulo, sucintamente, enfeixa
todas estas proposições numa só cláusula, e
em seguida considerará os pontos restantes.
Ao afirmar: E as crianças não eram ainda
nascidas, nem tinham praticado o bem ou o mal, está a demonstrar que Deus,
ao fazer a diferença entre eles, não poderia ter levado em conta quaisquer
obras que não haviam ainda vindo à existência. Os que apresentam um argumento
contrário, dizendo que isto não constitui razão para a eleição divina não fazer
diferença entre os homens segundo os méritos de suas obras - porquanto Deus
prevê as obras futuras, as quais os farão ou não dignos ou merecedores de sua
graça -, não conseguem
perceber com a mesma lucidez de Paulo, porém se prejudicam
pelo primeiro princípio de teologia, o qual deve ser bem mais conhecido dos
cristãos, ou seja: que Deus não pode ver nada [de positivo] na natureza
corrompida do homem, tal como demonstrado na pessoa de Jacó e Esaú, que o possa
induzir a demonstrar seu favor» Quando, pois, Paulo diz que nem um deles,
naquele tempo, havia feito qualquer bem ou mal, devemos adicionar, ao mesmo
tempo, seu pressuposto de que eram ambos filhos de Adão, pecadores por
natureza, sem a posse de uma única fagulha de justiça.
Não insisto na explanação destes
pontos, porque o pensamento do apóstolo é obscuro. Entretanto, visto que os
sofistas não se mostram satisfeitos com a simples afirmação de Paulo, e
intentam escapar com distinções frívolas, então empenhei-me por mostrar que ele
não estava de forma alguma desinformado acerca dos argumentos que alegavam, mas
que eles mesmos eram cegos em relação aos princípios elementares da fé.
Além disso, ainda quando a corrupção que se difundiu por toda
a raça humana é de si mesma suficiente para trazer condenação, mesmo antes de
revelar sua natureza em feitos ou atos, segue-se deste fato que Esaú merecia
ser rejeitado, porquanto era, por natureza, filho da ira. Não obstante, a fim
de evitar ainda alguma sombra de dúvida, como se a condição de Esaú fosse pior
em razão de algum vício ou deformação, era conveniente que Paulo excluísse os
pecados não menos que as virtudes. E verdade que a causa imediata de
reprovação consiste na maldição que todos nós herdamos de Adão. Não obstante, o
apóstolo nos dissuade deste conceito, para que aprendamos a descansar exclusiva
e simplesmente no beneplácito divino, até que se estabeleça a doutrina de que
Deus tem uma causa suficientemente justa para situar a eleição e a reprovação
em sua própria vontade.
Para que o propósito de Deus quanto à eleição prevalecesse. Em quase cada palavra ele insiste com
seus leitores sobre a soberania da eleição divina. Se
porventura as obras tivessem algum espaço, então teria dito: "para que a
remuneração esteja relacionada com as obras". Não obstante, ele põe em confronto as obras [humanas] e o
propósito divino^ o qual se acha contido tão-somente em seu próprio
beneplácito. E para que nenhuma base para contenda sobre o tema viesse a lograr
êxito, ele removeu toda e qualquer dúvida ao acrescentar outra cláusula, a saber: segundo a eleição, e
então uma terceira: não por obras, mas por aquele que chama. Portanto,
consideremos o contexto mais detidamente. Se porventura o propósito divino
segundo a eleição é estabelecido em razão de mesmo antes que os irmãos houvessem
nascido e pudessem praticar o bem ou o mal, um é rejeitado e o outro, eleito,
então querer atribuir a causa da diferença entre ambos às suas obras é
subverter o propósito divino. Ao adicionar, não por obras, mas por aquele que chama, sua intenção não era levar em conta as obras, e, sim, unicamente
a vocação [divina]. O que Paulo pretende é excluir toda e qualquer
consideração pelas obras. A perseverança de nossa eleição se acha total e
exclusivamente compreendida no propósito divino. Os méritos [humanos] não são de nenhum proveito aqui, pois
eles resultam somente em morte. A dignidade [humana] é desconsiderada,
porque não existe nenhuma, senão que reina unicamente a munificência divina.
Portanto, é falsa e contrária à Palavra de Deus a doutrina de que Deus ou elege
ou reprova com base em sua previsão, se cada um é ou não digno de seu favor.
12. O mais velho será servo do mais
moço. Observe-se bem como o Senhor faz distinção entre os filhos
de Isaque, quando ainda se acham no ventre de sua mãe. O oráculo divino então
aponta para Jaco. Segue-se disto que a vontade divina era mostrar ao filho mais
jovem um favor particular, o qual negou ao mais velho. Ainda que esta promessa
tivesse a ver com o direito de primogenitura, não obstante Deus declara sua vontade
nele como um tipo de algo maior. Podemos ver isto mais claramente se levarmos em conta quão
pouca vantagem, em relação à carne, Jacó obteve de sua primogenitura. Por causa
dela, ele se viu exposto a um grande perigo. A fim de escapar do perigo, se viu
obrigado a deixar seu lar e seu país, bem como se viu ameaçado, em seu exílio,
a viver de uma forma desumana. Em seu retorno, cheio de tremores e de
incertezas no tocante à sua vida, prostrou-se aos pés de seu irmão,
humildemente rogou perdão para suas ofensas, e só escapou da morte porque seu
irmão, Esaú, lhe ofereceu o perdão. Onde vamos encontrar o domínio de Jacó
sobre seu irmão, de quem se viu obrigado a buscar sobrevivência agora tão
ameaçada? Há, portanto, na resposta apresentada pelo Senhor, algo muito maior
do que a primogenitura prometida.
13. Como está escrito: Amei a Jacó. O apóstolo
confirma, usando um testemunho ainda mais forte, o quanto a promessa
feita a Rebeca se relaciona com seu presente tema. A condição espiritual de
Jacó era testemunhada por seu domínio, e a de Esaú, por sua servidão.
Jacó também obteve este favor pela munificência divina, e não por seu
próprio mérito. Esta declaração do profeta, portanto, revela por que o Senhor
conferiu a primogenitura a Jacó. Ela é extraída de Malaquias 1, onde o Senhor
declara sua benevolência para com os judeus, antes de reprová-los por sua
ingratidão. "Eu vos amei, diz ele. E então acrescenta a fonte da qual seu
amor fluía. "Não era Esaú irmão de
Jacó? - como a dizer: "Que privilégio tinha ele [Jacó] para que eu
lhe preferisse a seu irmão? Nenhum! Seus direitos eram iguais, exceto que o
mais jovem devia, por direito natural, estar sujeito ao mais velho. No entanto,
escolhi a Jacó e rejeitei a Esaú, movido a proceder assim unicamente pela minha
misericórdia, e não por alguma dignidade que porventura houvesse em suas obras.
E então vos adotei para que fosseis o meu povo, e assim pudesse mostrar-vos a
mesma benevolência que revelei a Jacó. Contudo rejeitei os edomitas,
descendentes de Esaú. Portanto, sois muitíssimo piores, visto que a lembrança deste grande favor nao pôde motivar-vos a adorar minha majestade.55 Ainda quando
Malaquias menciona também as
bênçãos terrenas que Deus derramara sobre os israelitas,
não devem ser consideradas em nenhum outro sentido
senão como sinais de sua munificência. Onde a ira divina for encontrada, a morte também estará
presente. Mas onde o amor divino é
encontrado, a vida igualmente se faz presente.
Labels:
Comentários Bíblicos,
Eleição,
João Calvino,
Romanos,
Salvação,
Soberania
Assinar:
Postar comentários (Atom)
1 comentários:
ola
eu queria agradeçe pelo trabalho que vc esta fazendo. pois esse trablaho edifica muitas pessoas e ajuda a outras que querem conheçer mais sobre o calvinismo querem conheçe mais ,sobre a telogia verdadeira , que querem ver o evangelho sem o enfeite que essa geração colocou, que Deus te abençoe e te encha de graça, amor, paz e prosperidade
fika com Yeshua